Em artigo anterior (1), fora introduzido o conceito de Universidade Corporativa, sua importância na perpetuidade do negócio, e casos de instituições do tipo no meio corporativo. Também fora mencionado, a dificuldade de se desenvolver tal projeto educacional nas empresas brasileiras, assunto esse, que será melhor apresentado no texto em seguida.
De modo geral, somente corporações com faturamento acima de 250 milhões de reais (2) se preocupam com a transmissão da cultura e estratégia corporativa ao seu quadro funcional. Grupos empresários de menor porte, muitas vezes, possuem uma visão imediatista do próprio negócio, mais preocupado com retornos rápidos do que a perpetuidade do empreendimento. Perpetuidade essa, que transcende a mera governança corporativa, e que está mais associada à passagem do conhecimento aos futuros gestores.
Muitas vezes, a não preocupação por parte dessas empresas ao assunto se deve ao forte envolvimento familiar na administração da empreitada, o que de certo modo torna desnecessária uma instituição como a UC: o próprio convívio em família é o suficiente para a transferência de conhecimento do negócio. Porém, concentrar tal cultura aos membros da família implica no risco de que em algum momento, certos membros ou mesmo uma geração inteira da casa, não tenham as habilidades necessárias para gerir o grupo.
Abrir esse conhecimento a profissionais de fora, por meio da UC, diminui esse risco ao possibilitar o ingresso de outros indivíduos que possuam competências para a perpetuação da sociedade empresária. Longe querer condenar empreendimentos em família, mas são notórias as limitações do modelo, vide o caso da Anhauser-Busch, que apesar da forte presença no mercado americano de bebidas, se encontrava há anos em estagnação quando da fusão com a Inbev (3).
Paralelamente, pesquisas recentes levantaram uma série de indicadores sobre as universidades corporativas em empresas de pequeno, médio e grande porte no Brasil; tanto em questões de instrumentos e espaço educacionais, quanto às habilidades a serem trabalhadas, passando pelo orçamento dedicado a instituição até a apuração dos resultados da mesma. Dentre esses dados, a preocupação por parte dos CEOs quanto a educação corporativa na formação de profissionais chave para suas corporações, que tenham não apenas a habilidade técnica mas também a postura de como lidar com o dinâmico ambiente de negócios.
Pensando nisso, que das 73 empresas entrevistadas, 81% dos CEOs investem em educação corporativa para os seus colaboradores, em especial, nas áreas de desenvolvimento profissional, interação comportamental, as instituições da empresa e cultura organizacional. Da parte dos CEOS, há expectativa de que os futuros profissionais possuam, em ordem de prioridade, tais qualidades: pensamento estratégico, gestão e aquisição de talentos, adaptabilidade, virtudes morais, liderança, inovação, competência técnica.
No entanto, as escolas corporativas brasileiras não possuem autonomia do setor de RH. Assim como, não possuem um sistema de gestão e avaliação dos resultados do projeto, sendo avaliado em forma de planilhas; além de que os responsáveis por tal empreitada exercem cargos de gerência (60% dos casos), contra 15% de diretoria e 3% de presidência.
Os resultados desse processo de aprendizagem são mais positivos em questões como formação de liderança, nivelamento de competências técnicas, melhora da produtividade e cumprimento da estratégia de negócios. Enquanto em outras necessidades da empresa, deixam a desejar, como: identificação de profissionais de alto desempenho, retenção de talentos, solução de conflitos e inovação de processos.
Muito há a de ser feito na área de educação corporativa, desde a tomada de consciência de sua importância até sua implementação e apuração dos resultados. Sendo interessante, que a área de negócios fosse mais atuante na governança das UCs e que essas, por sua vez, deveriam focar em gerar uma efetiva cultura organizacional de longo prazo, invés das competências técnicas imediatas.
Exemplos de sucesso, assim como os meios de implantação e avaliação serão expostos na continuação da série. Aguardem.
Luís Henrique Caldas
Consultor
100PORCENTO CONSULT – Consultoria Empresarial Ltda.
www.100porcento.srv.br
luis.caldas@100porcento.srv.br
O salto qualitativo: o que a Universidade Corporativa proporciona as empresas, CALDAS, Luís Henrique, Recife/PE, 06/03/2017.
(1) https://www2.deloitte.com/br/pt/footerlinks/pressreleasespage/pesquisa-educacao-corporativa-no-brasil.html
(2) Sonho Grande. Como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira revolucionaram o capitalismo brasileiro e conquistaram o mundo, CORREA, Cristiane, Rio de Janeiro/RJ, Editora Sextante, 2013.
(3)http://www.pwc.com.br/pt/estudos/servicos/consultoria-negocios/2016/modelos-praticas-de-educacao-corporativa-nas-organizacoes-bras.html
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